A intolerância definida como a incapacidade para compreender o mundo mediante a perspectiva dos outros, é uma caracterÃstica ou traço de personalidade que me constrange gravemente na minha relação inter pares. Por vezes não consigo lidar com essas situações que, por tentativa minha, procuro sempre ultrapassar com a tolerância e a tentativa de partilha de pensamentos e opiniões, esmagada quase sempre pela latente e galopante intolerância.
Vivemos hoje numa sociedade em que a informação é veiculada facilmente de uma forma rápida e acessÃvel. Vivemos o dia, a hora, o minuto, consumimos a informação, moldamos a informação, digerimos a informação, é-nos servida em doses de agradável aspecto diariamente, mexemos entre o lixo informativo que nos é bombardeado incessantemente pelos canais de informação mediática. Procuramos e cuidamos a linguagem, os mecanismos linguÃsticos, tossicamos a informação que jorra pelos canais. E no fim, o que nos resta? Frases enigmáticas sintomáticas de uma congestão colectiva de informação desgarrada.
“ Eu cá não tenho problemas nenhuns com os pretos, até há gajos fixes que são pretos, é pena andarem aà a roubar.�
“ Eu não me importava nada de andar com uma africana casar é que não.�
Assusto-me por vezes com o radicalismo, que passou já pela retina ao ler tão graves palavras mas, há que discutir conceitos, trocar ideias, pensamentos, aprender a ver o mundo na perspectiva dos outros, por mais que não seja para reforçar solidamente a nossa visão.
Serei puro de intolerância?
Resposta: Vi um documentário acerca da situação económica da Argentina algum tempo atrás. Pensei ter uma conceitualização segura do que é a pobreza e do que isso envolve, e consequentemente, as ideias para a sociedade onde estou inserido beberam dessa conceitualização e moldaram o meu pensamento sobre o que está errado. No entanto, e enquanto via esse documentário, a conceitualização que eu trazia de um pobre, mudou. Ingenuidade talvez, mas a ideia que tinha de um pobre é alguém que vive numa barraca, veste mal, anda a pé e não de carro. Nesse documentário apercebi-me de uma conceitualização nova acerca da pobreza. Vivem 170 famÃlias na lixeira de Buenos Aires, o seu sustento depende do camião que traz o lixo da cidade de Buenos Aires. Vivem entre o lixo, comem o lixo, brincam no lixo, amam-se no lixo e morrem no lixo. Depois disto imaginei todas as conversas que tive e que poderia ter acerca da pobreza e apercebi-me que, por momentos na minha vida, fui intolerante agarrei as minhas ideias como as mais válidas, os meus conceitos como insuperáveis ou quase, pensei que tinha uma noção concreta de pobreza e não a tinha. Desde então, procuro transmitir o que sei, beber dos outros o que não sei e partilhar e tentar ver o mundo na perspectiva dos outros. Umas vezes aprendi outras reforcei as minhas ideias.
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