quinta-feira, dezembro 30, 2004

Primeira impressão

Dizer que há mais democracia nos Estados Unidos, em comparação com a Europa, é, para mim, um pouco rebuscado, mas não deixa de fazer sentido apenas num pequeno detalhe que mesmo assim não é suficiente a meu ver. Qualquer das vias não nos podemos deixar levar pela impressão que a afirmação, nos Estados Unidos há mais Democracia do que na Europa, nos traz por muito estranha que possa parecer no início.
Se há défice de democracia nos Estados Unidos evidenciados pelo desenrolar das eleições Norte-Americanas e pelo desrespeito pelas minorias étnicas, por outro lado existe, nos Estados Unidos, algo que dá maior vitalidade democrática. A quantidade de movimentos cívicos, dos vários quadrantes, em prol da reivindicação de direitos que são negados a várias camadas sociais da população Norte-Americana, são, sem dúvida, o pequeno detalhe que faz a diferença entre os Estados unidos e a Europa. Qualquer das vias, isto, só não é suficiente para que nos possamos esquecer da violação, reiterada, de vários Direitos Humanos naquele país, ou, a violação dos Direitos Humanos que aquele país comete noutros países. Agora vejamos a imaculada Europa e o que foi em tempos e no que se está a tornar actualmente, atendendo aos últimos desenvolvimentos do que é e foi a política externa Europeia, bem como, algumas medidas que alguns países europeus têm tomado. Se até há bem pouco tempo a generalidade dos países europeus era reconhecida pelo sistema de Segurança Social, com os países escandinavos a encabeçar a lista dos países com maior desenvolvimento a este nível, isto, actualmente tem vindo a ser delapidado e os sistemas de Segurança Social dos vários países europeus tem vindo a ser reduzido significativamente, quase sem excepção. As políticas neo-liberiais dos vários governos europeus, tendo os Estados Unidos como exemplo, têm vindo a implementar um sistema, cada vez mais, idêntico ao dos Estados Unidos com todas as desvantagens que este sistema traz. Notícias como as que vêem de Itália, indicando que o governo Italiano pretende deslocar os reclusos estrangeiros das cadeias italianas para os países de origem dos reclusos por esta via ser mais vantajosa financeiramente, é um pequeno passo para a instauração de um espírito neo-liberalista igual, ou pior logo se verá, aos dos Estados Unidos. Não podemos esquecer que, a ideia de deslocação de reclusos para os países de origem, mesmo que financiando os estabelecimentos prisionais dos respectivos países, é, na sua essência, a mercantilização do sistema prisional. Nos Estados Unidos onde o sistema prisional é privado e representa milhões de dólares para as entidades que os exploram, há necessidade de “clientes� a toda a hora em prejuízo de um sistema judicial justo e não discriminatório para as minorias étnicas. Será isto que pretendemos que se torne a Europa? Estes pequenos detalhes fazem-me pensar, seriamente, acerca da validade da afirmação que despoletou este post. Afirmar que há mais democracia nos Estados Unidos em comparação com a Europa, parece-me cada vez mais que terá validade atendendo no que a Europa se está a tornar com todo este neo-liberalismo injectado em doses industriais. Qualquer das vias, o mais equilibrado será afirmar o seguinte: Nos Estados Unidos haverá mais democracia em comparação com o que a Europa se está a tornar.

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