Já li, por diversas vezes, odes à vida no campo e mais propriamente, às pessoas dos meios rurais. Franqueza e sinceridade são os pilares da descrição que fazem sobre as pessoas dos meios rurais. Mas será essa a verdadeira essência das pessoas do campo? Sempre vi o campo e as pessoas que o habitam como uma só coisa, um único ser vivo, que é desconcertantemente por um lado e terno pelo outro. Muitos poderão pensar que há uma certa magia na forma primacial do trato das pessoas que vivem nos campos. As pessoas do campo, que são também o campo, são trágicas como o tempo e o mudar das estações o é. São generosas como a Primavera e duras como o Inverno. As primaveras são pródigas em fartura e resplendor, as pessoas do campo também o são. A franqueza e sinceridade das pessoas do campo é como a chuva numa tarde solarenga, vem inesperadamente, molha, faz-nos sentir os tremendos ossos do corpo, voltamos à forma primacial, aconchegamo-nos com medo do frio. Os elementos esculpem nas pessoas a sua alma o seu viver a sua dimensão, são pequeninas, têm consciência do seu papel no meio em que vivem.
A cidade, esse campo enorme de flores e árvores de pedra e cimento, têm pessoas pequeninas. Vivem num só dia as quatro estações do ano. São esculpidas pelos elementos. Circulam, correm e são moldadas pelos elementos mas não se apercebem o quão pequeninas são ao lado da floresta de pedra. A primavera é pródiga também na cidade, as pessoas são generosas quando estão em si na primavera.
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