sexta-feira, dezembro 03, 2004

Caridade e consumismo

Lá estava o Oliveirinha a circular por entre uma dessas superfícies comerciais, autêntico hino ao consumismo desenfreado, quando fui abordado por uma simpática e assertiva moça de um stand. Eu parei e deixei que a moça me debitasse o discurso, minuciosamente estudado e decorado, a uma velocidade estonteante à razão de 10 palavras por segundo quase. Nada de estranho com este tipo de abordagem, no entanto, é agora o momento em que se diz “ Now the plot thickens! “, ou seja, agora vou explicar o que eu vi, como vi e qual a minha reacção a tudo aquilo.
Devo dizer, antes demais, que as obras de caridade são de salutar, como também é de salutar as pessoas que, por um motivo ou outro, prestam o seu trabalho ou auxílio a essas obras de caridade. Nem tudo o que luz é ouro, penso eu. A moça que referi anteriormente estava a trabalhar para uma obra de caridade que, através da venda de um cartão de descontos, iria auxiliar quatro instituições. Até aqui tudo bem senão fosse eu ser um tipo um pouco complicado por vezes, confesso. Faz-me um pouco de confusão certas obras de caridade que se aliam a empresas comerciais em que, as empresas comerciais, utilizam, de certa forma, a boa vontade das pessoas em ajudar o próximo para dessa forma angariar clientes. As empresas que aderiram ao cartão, dá-me a impressão, pensaram da seguinte forma: “ Vou queimar alguns impostos e angariar clientes com o engodo do desconto que esse cartão proporciona� Agora pergunto, nesta perspectiva, aonde está a Caridade? Assim custa-me dar seja lá o que for por causa dessas empresas “caridosas�. Quanto à moça, devo dizer, nada tenho a apontar, a não ser um pequeno detalhe. Quando esta debitava o discurso de uma forma mecanizada, a uma dada altura, só me lembrei daquelas máquinas que dizem: “ crrr crrr soy un iorro sin verguença, day me una moneda! Quiero hablar contigo� a moça que me desculpe mas foi isso que eu me lembrei quando a ouvi a debitar o discurso.
Moral da história, confesso que sou esquisito por vezes e que talvez seja pouco rígido com alguns valores e convicções pessoais mas, devo dizer também, o consumismo faz-me impressão, puxa de mim as mais estranhas reacções. Quanto à caridade, dou de bom grado, em dinheiro ou géneros às Instituições de caridade e não a essas joint-ventures com interesses pouco caridosos de certas empresas.

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