sábado, novembro 20, 2004

Viagens

Nunca visitei a RDA enquanto país independente e separado da RFA, no entanto, numa ocasião, tive a oportunidade de passar por Duisburg, na Ex-RDA, numa viagem atribulada que fiz de comboio de Hannover ( norte da Alemanha) até Eindhoven na Holanda. Comigo viajava um amigo meu africano e passámos por várias cidades alemães da parte ocidental e também da parte oriental. A viagem começara na estação de Hannover e dois estrangeiros, um branco e um negro, sentavam-se nos respectivos lugares marcados do comboio. A primeira sensação que tive foi a de ser observado por curiosidade e também por avaliação de uma possível ameaça que eu e o meu amigo poderiam constituir a alguns passageiros mas apesar de tudo a viagem foi cordial. Fizemos um transbordo na cidade da Ex-RDA, Duisburg, lá aguardaríamos por um outro comboio que nos levaria até Venlo na Holanda. Chegados à estação de Duisburg, aterrámos completamente num cenário de pura decadência que, por muito que fosse contra o esperado de um país como a Alemanha, excedeu as expectativas. O cheiro nauseabundo, as pessoas cabisbaixas que se arrastavam pela estação, os emigrantes Turcos e Coreanos, pintavam o cenário de uma cidade da Revolução Industrial, negra, deprimente. O comboio que deveríamos apanhar estava a escassos metros de nós mas, por falta de comunicação, vimos este partir sem nos apercebêssemos que aquele comboio que partia, se o tivéssemos apanhado, nos iria privar da experiência que tivemos nessa noite. Tivemos que aguardar das 2 da manhã até às 4 da manhã por outro comboio que nos levasse até à Holanda. Entretanto, fomos a um Bar da estação, lá a fauna era muito interessante. A meretriz, o alcoólico, o desempregado, o emigrante que esperava o começo de um novo turno de trabalhos forçados por devoção ao Euro, compunham uma atmosfera interessante. Ninguém falava mas os olhos e as expressões diziam tudo. É incrível ver como, num país como a Alemanha as expressões daqueles mais oprimidos numa qualquer sociedade, são tão idênticos aos que eu conheço no meu país. A opressão, parece-me, não tem feições definidas, ou melhor, tem feições iguais em quase todos os países. As conversas, as perguntas, o olhar é exactamente igual àquele que eu conheço daqui, apesar da cultura ser muito diferente. O ser humano tem uma unidade expressiva universal, só mesmo nas cidades mais abastadas é que eu vi o quanto diferentes são os alemães e também, em como em certos aspectos eles não diferem muito de nós, pelo menos alguns.
O meu ideal de turismo não é propriamente a visita a lugares históricos, aliás, estes só podem ser desfrutados quando conhecemos bem quem os construiu.

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