segunda-feira, agosto 30, 2004

Façam, mas que ninguém veja.

A tacanhez é uma infelicidade de espírito e quando esta se torna uma forma de condução ideológica, ainda mais infeliz é. Fazer crer que, impedir um barco que assiste e não promove, ao contrário do que o Governo quis fazer entender, o aborto assistido com recurso a meios médicos e cuidados de saúde, é malicioso e hipócrita. Parece que o Governo pensou que pelo facto de o barco do amor estar fundeado num porto marítimo português que isso iria incitar a prevaricação de uma crime que, bem vistas as coisas não é um crime, numa atitude de tapar o sol com a peneira. Será que pensaram que a população feminina portuguesa, ao ver aquele barco, iria entrar e experimentar uma nova sensação? Por momentos acharam estes hipócritas que a decisão de fazer um aborto que será a mesma coisa que ir ao dentista arrancar um dente? Porque é que não acharam antes que a decisão de fazer um aborto não se toma de ânimo leve e que ao tomá-la deverá ser feita com os cuidados mínimos e indispensáveis e sem ser levada ao tribunal a mulher que, por consciência própria, tomou essa decisão?
Como já disse a tacanhez é uma pobreza de espírito para quem, segundo a linha de raciocínio do Governo, se é que há alguma, não permitiu a entrada de um barco que não iria violar qualquer lei portuguesa. Primeiro temos que ver se a lei é justa, o que não é, segundo temos ver que esse referido barco não iria violar qualquer lei no espaço territorial português. Não me espanta nada este tipo de resolução tomada pelo governo que, diga-se em abono da verdade, prima pela incongruência. Tem homossexuais no elenco governativo, no entanto, promove a continuação do obscurantismo legislativo no que concerne a igualdade de direitos em relação a casais homossexuais. Esta lógica é-me difícil de compreender.
Pessoalmente, se fosse mulher, não faria um aborto mas, apesar disso, se tivesse numa situação em que tivesse que optar entre fazer ou não fazer, gostaria que tivesse a liberdade de escolher uma das opções em consciência, sem discriminação nem penalização alguma. Não posso, nem podemos todos nós, inculcar o nosso referencial de valores aos outros à força. Para mais, a moralzinha destes tipos do Governo não vale nada é fétida.

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