Tive uma sensação dejá vu no outro dia. Quando tomava café não pude evitar que uma conversa alheia invadisse o meu espaço e me tenha capturado a atenção por alguns minutos. Esta conversa apoderou-se de mim e trouxe-me de volta a tempos mais recuados, uma sensação dejá vu trepou por entre a conversa. Uma mãe, desanimada, confessava para a sua amiga os amargos e dissabores que o estado actual do paÃs lhe causou. Seu filho, referia ela, vai para a Bélgica trabalhar pois por cá não há futuro. O presente é pautado pelo desemprego, interrompido aqui e ali por um ou outro contrato a prazo, a perspectiva não é saudável. No entanto, não foi este o trigger para a sensação dejá vu, mas sim, o discurso, a expressão no rosto de uma mãe que vê, resignadamente, a partida do seu filho para um paÃs distante como a alternativa única, irreversÃvel. Lembro-me na aldeia da minha mãe as conversas, as mesmas que ouvi no outro dia e que pensava que não ouvisse mais, acerca do desalento dos jovens para com um paÃs, o nosso, que não lhes oferece qualquer perspectiva de futuro. As conversas dos anos oitenta estavam carregadas por demais evidências que, apesar de tudo, faziam sentido na altura, confesso que não esperava que voltassem hoje, anos mais tarde num paÃs que se desenvolveu, não o suficiente como se pode ver com as conversas e os argumentos que teimam a persistir, mas que afinal sempre dá actualmente mais condições do que na altura.
Do outro lado parece sempre ser mais bonito e risonho do que cá deste lado. A emigração de hoje é diferente da de anos mais recuados. Emigra-se na perspectiva de viver num paÃs que proporcione estabilidade em detrimento de qualquer tipo de sonho materialista consumado com uma vida que lhes ofereça um automóvel enorme e potente e uma casa com imensas divisões. Procura-se um paÃs com assistência social eficaz, um sistema de saúde eficiente e gratuito. O que vejo hoje em Portugal é o destruir de um sistema de protecção social que estava a crescer e a ser melhorado, actualmente, o amanhã vê-se quando se chegar lá, se é que lá chegamos, vive-se numa lógica da ausência de perda, tudo vale para sobreviver, o que importa não são os que perecem da luta constante e diária mas os que ficam para lutar mais um dia.
Fala-se muito acerca das alternativas governativas, se o melhor será a Esquerda Soufflé de Sócrates ou a esquerda clássica de Manuel Alegre mas o que importa fundamentalmente é mudar as pessoas. É imperativo que toda uma classe de polÃticos portugueses, que prosperaram após o 25 de Abril, saÃam e dêem lugar a uma nova geração de polÃticos com uma forma de estar na vida completamente diferente. Portugal de hoje não é o de 25 de Abril de 1974, é irreversÃvel.
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