quinta-feira, outubro 21, 2004

Chomsky a ameaça do Neo-liberalismo


Uma das leituras obrigatórias para quem se mostra atento ao desenrolar dos acontecimentos ao nível da política internacional é, sem dúvida uma das, pelo menos, Noam Chomky. É considerado um esquerdista por muitos, no entanto, prefere ser apelidado de Anarcosindicalista. Irei transcrever um breve trecho de um ensaio que este escreveu em 1964, apesar de, e não obstante a data em que foi escrito a que se refere ser a Guerra do Vietname, este ensaio é actualíssimo pois lançou a discussão acerca do que é o pensamento e, acima de tudo, desmistificou o dogma do controlo que o poder exerce sobre os vários intervenientes de uma qualquer sociedade. Este trecho não dispensa a leitura completa do ensaio para que, de uma forma objectiva, se compreenda realmente a extensão de tudo aquilo a que Chomksy se refere e, no final, poderão ser sujeitos a uma surpresa agradável ao verificar que este ensaio não se resume a um doutrinamento cego, pelo que, para quem advoga as ideologias de Direita, poderá continuar a advogá-las mas, após a leitura deste ensaio, poderá então compreender os mecanismos de poder e de persuasão dos diversos governos. Como está muito na voga a atribuição da terminologia de Neo-liberais aos vários governos actuais de Direita, este ensaio poderá mostrar que de Neo, os liberais actuais não têm nada.

Trecho do Ensaio intitulado “The Menace of Liberal Scholarship� publicado no The New York Review of Books, em 2 de Janeiro de 1969

What grounds are there for supposing that those whose claim to power is based on knowledge and technique will be more benign in their exercise of power than those whose claim is based on wealth or aristocratic origin? On the contrary, one might expect the new mandarin to be dangerously arrogant, aggressive, and incapable of adjusting to failure, as compared to his predecessor, whose claim to power was not diminished by honesty about the limitations of his knowledge, lack of work to do, or demonstrable mistakes. In the Vietnam catastrophe, all of these factors are detectable. There is no point in overgeneralizing, but neither history nor psychology nor sociology gives us any particular reason to look forward with hope to the rule of the new mandarins.

Os newmandarins que Chomsky se refere são os Gestores de topo, em especial, aqueles que desempenham funções de destaque na vida pública. Actualmente, vivemos impregnados por especialistas e pela “ ditadura� da especialização, doutrinada desde tenra idade nas escolas com o culto do Doutor e do isolamento, em ilhas de conhecimento, dos variados factos que ocorrem no dia a dia. Não faz sentido que uma questão de si multidisciplinar seja alvo da colonização de um ou outro especialista que, em terreno já lavrado pela instrução que o público tem nas escolas, vê a sua opinião ou vontade exercida sobre os demais. Um exemplo nítido desta doutrinação está na reacção que o público tem à mais variadas situações a que é sujeito. “ Eles é que sabe� é a figura mais emblemática deste Estado de Coisas. Quando não se aposta na formação de um individuo, na escola, no sentido de proporcionar a este os mecanismos que o habilitem a pensar acerca de tudo, privilegiando antes, o ensino de matérias factuais desprendidas de todos os seus contornos. O que resulta deste estado de coisas é a expressão democrática que o povo tem actualmente para com a política, ou seja, passividade.

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