terça-feira, outubro 19, 2004

Exótico ou exotismo do que parece, mas não é.


Nos países ocidentais por vezes fala-se dos países do Terceiro Mundo com um certo exotismo que, na realidade, não existe. Não consigo ver qualquer tipo de exotismo num país como a �ndia, por exemplo, com uma sociedade dominada pelo sistema das castas. A ideia de uma pessoa nascer numa determinada casta, e por tal, não ter hipóteses algumas de conseguir melhorar a sua vida, pois isso, é tido como tabu social, ou seja, nunca alguém de uma casta inferior nunca poderá executar o trabalho de alguém de uma casta superior. Como é possível, mesmo que em textos publicitários, ver-se apelidada a �ndia como a maior democracia do mundo?
Tenho uma pessoa minha conhecida que foi à índia e o que lá viu é, no mínimo, Dantesco. Crianças que vão pedir dinheiro a turistas para comprar leite e que depois de os turistas darem o dinheiro para comprar o leite, as crianças, voltam a depositar o leite na Leitaria para assim receberem a sua comissão do leiteiro, cabecilha do esquema, isto não é exotismo, é miséria.
Na �ndia actualmente morrem milhares de pessoas de fome, no entanto, existe um programa nuclear na �ndia. A classe média é inexistente, foi substituída por uma geração de ricos, muito ricos que, inclusivamente, têm mais poder de compra que qualquer rico que viva na Europa.
Esquecemo-nos facilmente do que é a pobreza e a miséria, aliás, não a conhecemos na Europa, pelo menos, ao nível de um país como a �ndia e outros países que tais do Terceiro Mundo. Procuramos ver o lado humano da vivência daqueles povos em contraste com a nossa vivência e chegamos a conclusões distorcidas do que é a realidade. Ficamos chocados com o relato de um caçador furtivo que abateu um elefante em troco de uma máquina de moer grão e achamos que essas pessoas são incivilizadas, não têm respeito pelos animais. Esquecemo-nos que dessa máquina de moer grão depende uma família inteira que não tem água potável e que morre de doenças que, por cá, já não se morre à séculos, é estranho mas tomamos em conta a desproporção do que é a vida e as sua amplitude. Enviamos sacos de milho trangénico, que não pode ser comercializado cá, em troca de petróleo, muito petróleo e ficamos descansados porque fizemos algo correcto para aqueles que necessitam. Será? As ONG´s são um negócio tremendo.
Em �frica, por cada 10 sacos de cereais que são enviados, um chega ao seu destino, o povo carenciado, no entanto, esse saco chega sob uma contrapartida impossível de ser paga. Chega sob a contrapartida de petróleo, minérios, recursos naturais e uma cada vez maior dependência desses países para os ex-colonizadores e neo-colonizadores. Não está certo, o Neo-colonialismo está aí para vingar e é vergonhoso a forma como os governos europeus, já para não falar dos Estados Unidos, são cúmplices nesta negociata.
Há imensas oportunidades de trabalho voluntário, ou não, para quem realmente quiser auxiliar esses países e a si mesmo, visto que, uma experiência destas vale mil lições na vida.
Parece um pouco sentimentalista pensar assim mas, enquanto o fosso entre o Ocidente e o Terceiro Mundo existir da forma como existe, o povo dos países ocidentais sofrerá, como tem vindo a sofrer, as consequências do desemprego. Por cada fábrica das multinacionais europeias que abre num dos países do Terceiro Mundo, milhares de postos de trabalho são perdidos na Europa. Facilmente se pensaria que é positivo para os povos do Terceiro Mundo a abertura de fábricas nos seus países, no entanto, a realidade é bastante diferente. Nessas fábricas trabalha-se de uma forma que nós cá julgávamos esquecida algures no século passado, mas não, ela existe lá no Terceiro Mundo.
Enquanto não houver um organismo regulador do comércio Internacional que realmente fiscalize o comércio de produtos internacionalmente, de forma a impedir o comércio de produtos manufacturados por empresas que desrespeitam as mais básicas condições de trabalho e exploram o trabalho infantil, por exemplo, o futuro das próximas gerações está em perigo. Portanto, cada vez que adquirirem um produto made in china, pensem bem no que fazem.
Propõe-se que os modelos de desenvolvimento para os países subdesenvolvidos prevejam realmente o desenvolvimento humano e social das populações que vivem nos referidos países com o devido respeito pela realidade cultural de cada um dos povos sem que, como tem vindo a ser feito, se doutrine as populações num estilo de vida ocidental, consumista da pior espécie. Escolas. Saneamento básico, acesso à informação e democracia, estas são as armas do desenvolvimento humano e social dos países de Terceiro Mundo respeitando as suas realidades culturais, sociais e religiosas.

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