A questão em volta da organização de um evento, como é o caso do LiveAid, situa-se sempre na quantidade de fundos que se geram em torno de uma causa. No entanto, temos que pensar sempre na forma, se é que existe uma forma viável nas circunstâncias actuais, de fazer com que os fundos efectivamente cheguem à s populações realmente necessitadas. O primeiro LiveAid foi um fiasco no que toca à distribuição dos fundos à s populações necessitadas porque muitos dos fundos ficaram no caminho ou foram desviados pelos governos e exércitos em guerra. Este ano, a questão mantêm-se, ou seja, como é que serão distribuÃdos os fundos e será que os fundos chegam à s populações. Pessoalmente, creio que a melhor forma de auxiliar as populações necessitadas é através de projectos que permitam furar o ciclo de pobreza instalado nos paÃses subdesenvolvidos. No entanto, esta ideia é sempre um pouco efémera, na medida em que, se não mudarmos as razões estruturais que provocam a pobreza, o auxÃlio pontual, de pouco servirá. A reunião do G8 será realizada, e que melhor altura para movimentar as pessoas em torno dos perigos que o presente modelo de Globalização apresenta, senão agora e durante o LiveAiD. Não podemos ter a ilusão que perdoando a dÃvida externa dos paÃses subdesenvolvidos que estaremos a ajudar efectivamente esses paÃses. A maior parte das dÃvidas externas, nesses paÃses, são originadas pela venda de armamento para alimentar guerras, na sua maioria, sustentadas pelos paÃses desenvolvidos, bem como, pelas dÃvidas que esses paÃses têm na aquisição de medicamentos para combate à s muitas doenças que assolam extensos territórios e populações. Não posso conceber que um paÃs africano, pobre, pague tanto ou mais por um medicamento essencial que poderá salvar as vidas de muitos milhares de pessoas, apenas porque, a indústria farmacêutica pretende ganhar milhões extras com a miséria das populações.
Outra questão apensa a este tipo de eventos tem a ver com a capacidade de mobilização do público em torno de uma causa, ou será, em torno de uma série de bandas? Esta dúvida paira em torno do LiveAid e creio que é inevitável a politização deste tipo de evento. É óbvio que a politização deste tipo de evento não é, nem pode ser, feita sob os velhos modelos de esquerda versus direita, mas sim, em torno de um movimento de desobediência cÃvica que pressionará todos os partidos a encarem a necessidade extrema em modificar o modelo de globalização que se está a aplicar. A busca de lucro fácil sob a capa de uma globalização que abrirá as portas à livre circulação de produtos entre os vários paÃses mundiais, é uma falácia se, essa circulação de produtos for feita no pressuposto da exploração de mão-de-obra barata. A mão-de-obra, a nÃvel mundial, não poderá continuar a ser barata, pois isso cavará cada vez mais o fosso entre ricos e pobres. A globalização deverá permitir o nivelamento, o mais próximo possÃvel, para que esses paÃses produzam e sejam consumidores. Não se pode sustentar a situação actual em que, algures no Paquistão, um trabalhador paquistanês, provavelmente uma criança, não tem o dinheiro suficiente para comprar uma dos milhares de bolas de futebol que produz, é um contra-senso. Por fim, utilizar slogan dizendo que hoje vamos acabar com a pobreza, tenham paciência e não gozem com a situação.
A desobediência civil não é um fetiche, é um dever que todos os cidadãos devem exercer quando está em causa a dignidade humana, seja no nosso paÃs ou em qualquer outro ponto do globo, pois, isso, afecta directamente todos nós.
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