sexta-feira, julho 15, 2005

Cada techo tem a sua panela

Ainda não escrevi nada acerca do episódio infeliz do anúncio, por parte da Fundação Calouste Gulbenkian, de pretender acabar com a sua companhia de Bailado. Creio que não é necessário explanar o quanto Portugal poderá perder com o encerramento desta Companhia de Bailado. O que eu guardei na memória durante estes dias foram duas coisas muito importantes. A primeira tem a ver com a petição que corre online e a manifestação que ocorreu em Lisboa para demover a Admnistração da Fundação Calouste Gulbenkian desta ideia peregrina. A segunda tem a ver com o hipotético aproveitamento político que alguns políticos da praça viram neste episódio.
Quer queiramos ou não, a Fundação Calouste Gulbenkian é uma Instituição da esfera privada e, infelizmente, poderá tomar este tipo de decisões sem que tenha que dar satisfações à população. É triste mas em Portugal é assim porque, e isto é que é o ponto da questão, a cultura é feita por privados porque, da parte do governo Português pouco ou nada é apoiado, ou quando é apoiado, é sempre sub-apoiado e assim faz-se pouca coisa. O cerne da questão aqui está no facto do Estado Português não disponibilizar os meios suficientes para termos efectivamente cultura neste país. Ao invés disso, pagamos repórteres do canal estatal para passarem férias no estrangeiro sempre que há um episódio qualquer de relevância, se é que, por vezes,esse episódio é minimamente relevante. Cultura neste país é contratar uma fadista qualquer para cantar um fadinho num programa qualquer de televisão e falar acerca do saudosismo fadista e da tradição. Nunca passou pela cabeça de qualquer político que, uma companhia de bailado, e não só, é fundamental para o país. Para muitos isto pode parecer efémero e desregado do que é essencial mas o facto é que um povo que não cria, que não se expressa, definha e isto é que está a acontecer em Portugal. A dança, o teatro, o cinema são formas de expressão artística que promove a criatividade de quem faz e de quem vê e, essencialmente, de quem vê é que se deve estimular essa criatividade. Um povo cinzento definha, vamos colorir Portugal com Cultura.
Por fim, digo a todos os políticos que gostam de aparecer na televisão chocados com o encerramento da companhia de Bailado que, em vez de se aproveitarem deste episódio para darem uma imagem de grande preocupação pela cultura neste país, apresentem projectos para a criação ou apoio de companhias de bailado, escolas de bailado estatais porque, a cultura é efectivamente necessária, não é um luxo para alguns.

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