quinta-feira, julho 28, 2005

Bonding

O meu pai é um fanático da pesca "desportiva". Um dia levou-me à pesca numa barragem, e para o efeito, comprou-me um cana de pesca tamanho infantil. Eu, grande entusiasta da pesca desportiva, adormeçi com a cana na mão, desde então, coloquei de lado a minha carreira na pesca desportiva. Sempre gostei de actividades mais enérgicas, ao contrário da pesca, por isso, quando ia à pesca com o meu pai divertia-me à brava na medida em que, o meu pai, mandava para o outro lado do rio, ou da barragem, para eu brincar. Como a minha brincadeira, invariavelmente, era chapinhar na água ou atirar pedras ao rio ( sempre achei curiosa essa fixação de atirar pedras ao rio, toda a gente o faz, e quando o faz, fá-lo instintivamente.), o meu pai, esperto como ele é, sabia que o filhote, que sabia nadar, iria afugentar os peixes do outro lado do rio direitinhos para o lado onde o meu pai estava. Isto sim, é bonding pai-filho porque de resto, pesca, nem vê-la, sempre me fez confusão aquele desporto que consiste em espetar um granpo afiado na boca de um peixe a troco da ilusão de um almoço fácil, do peixe e do pescador mais tarde é claro.
Os meus tios são caçadores e chegaram a levar-me à caça. Num desses dias, fomos à caça do coelho, ou melhor foram eles porque a arma era maior que eu quase, e, de princípio, achei graça à coisa porque conseguia ver os animais de mais perto, sempre no mais profundo silêncio. A coisa estava a correr bem até que o meu disparou a arma e matou um coelho. Fiquei chateado com o meu tio, bolas tanto pé ante pé para chegar ao pé do coelho e vê-lo a correr e a saltar para que, num segundo, um tiro desfizesse o desgraçado do animal. Desnecessário será dizer que caça ficou fora do roteiro de bonding da minha família daí para a frente. Em alternativa, levaram-me ao tiro aos pratos, isso sim, partir a loiça toda!!! sempre gostei de partir a loiça toda. Encontraram o bonding perfeito para a criancinha. Mais tarde, cheguei a partir uns pratos com a arma e, isso sim, é que é um desporto.

quarta-feira, julho 27, 2005

Um gesto bonito

O Governo Português vai autorizar o estado Espanhol a utilizar água da Barragem do Alqueva para regar os campos agrícolas de Vilar del Fresno. Sabendo de antemão que, o estado espanhol, efectua transvases de água do rio Tejo e do rio Douro para o Sul de Espanha e que colocou duas centrais nucleares junto da nossa fronteira, utilizando a água dos dois maiores rios Portugueses, digamos que, em muito, contribuí para a excelente qualidade da água desses dois rios, mesmo assim, o estado Português, autorizou a utilização da água de Alqueva para regar os campos agrícolas de Espanha. Que gesto bonito, sim senhor!!!

terça-feira, julho 26, 2005

Crise existencial

Como um adolescente, Portugal, atravessa uma crise existencial. Incapaz de produzir figuras políticas capazes de mobilizar a população em torno de uma causa, de um objectivo, vemos hoje o renascer das aves sagradas, os fénixs, da política de outrora. Cavaco Silva e Mário Soares aperfilam-se como candidatos ao cargo de Presidente da República Portuguesa. Ambos figuras proeminentes no seu tempo, vão agora entrar em batalha para um cargo fora do seu tempo.
É preocupante a incapacidade de se produzirem novos líderes em Portugal, colocando assim em risco a transição natural dos tempos que se avizinham. A apatia reina num país onde os partifos políticos elegíveis. pela sua dimensão, são governados pelos mesmos e velhos caciques, abafando a renovação. É complicado assim!

sexta-feira, julho 22, 2005

TGV

Ainda não consegui perceber, concretamente, o interesse estratégico que o comboio de alta velocidade poderá ter em Portugal. Tendo em conta a dimensão do nosso território, um comboio de alta velocidade no percurso entre Lisboa e o Porto nunca conseguirá atingir a velocidade máxima. Para mais, o argumento que o Primeiro Ministro deu ao país, dizendo que se os outros têm, Portugal não poderá ficar atrás, é falacioso ao ponto de, imaginem, se os outros todos tiverem um par enorme de cornos, nós, teriamos que arranjar um par de cornos enormes para não ficarmos atrás. Não ponho de parte, num cenário de grande expansão económica, que não é o caso actualmente, que se coloque como hipótese o comboio de alta velocidade, mas não agora com o país no estado que está.

quarta-feira, julho 20, 2005

Estalou o verniz

Na edição de 20 de Julho de 2005 do Jornal de Notícias, página 31, foi publicado um artigo acerca de uma febre da blogoesfera em Coimbra, cujo título do artigo é " Insultos e revelações ao alcance de todos". Neste artigo refere-se o início de uma investigação por parte da Polícia Judiciária devido ao conteúdo de alguns comentários, difamatórios crêem, anónimos publicados neste post do Blogue Ponte da Europa. Pela leitura que fiz do referido post, o autor do post, aparentemente, de nada é culpabilizável, no entanto, os comentários são lesivos e estrapulam o que poderá ser tido como opinião. A juntar a tudo isto, vem o facto de, os referidos comentários, terem sido postados sem identificação.
Este género de questões, em torno da blogoesfera, já foram inúmeras vezes levantados sem grande transtorno para a blogoesfera pois nesta continuam a proliferar estes, e outros, tipos de blogs. Sinceramente, o que se pretende fazer acerca deste questão do insulto e levamtamento de suspeitas em torno de pessoas que, normalmente, não se poderão defender? Creio que pouco ou talvez nada a não ser travar a liberdade de expressão pura e simples pois, poder-se-á abordar uma questão, insinuando, ou então, fazendo levar à tona uma série de coincidências. O problema aqui reside nos comentários e comentadores que, por vezes, primam pela falta de bom senso naquilo que escrevem, comprometendo os autores dos blogs, sem deixarem uma identificação. Claro está que, a identificação, não será mais do que um nickname mas, qualquer das vias, não é um comentário do género toca e foge, muitas vezes cobarde quando insulta o autor ou os visados num qualquer post. Não sou a favor da instauração de regras/leis para a Blogoesfera mas apelo sempre ao bom senso e alguma frontalidade. Que fácil é chegar a um blog que começar a deixar comentários insultuosos e depois fugir mas, todavia, que fácil é alguém chegar à porta de alguém e deixar um cartaz com algo insultuoso escrito acerca de alguém que lá vive. Tem exactamente a mesma gravidade e o mesmo grau de cobardia. Também há que ver que somos bombardeados todos os dias com insinuações, actos cobardes e outras afirmações que tais por quem deveria dar o exemplo e não dá. Agora quem é que deverá perder o piu? Quem não tiver pecados que atire a primeira pedra.

terça-feira, julho 19, 2005

Cabeças de vento

Até à data, em Portugal, os nossos governantes têm sido uns autênticos cabeças de vento por não terem implementado a energia eólica em Portugal. O anúncio por parte do actual executivo da instalação de dois mil moinhos de vento para gerarem cerca de 30% da energia consumida em Portugal deixou-me muito satisfeito. Relativamente às vantagens ou desvantagens deste género de produção de energia eu estou entusiasmado em virtude de se reduzir o consumo de petróleo e assim diminuir a poluição. Por fim, resta-me dizer apenas, Até que enfim!!!!!!
Este tipo de produção eléctrica é limpa e rentável, o que, trás imensas vantagens para um país como o nosso tão dependente do petróleo.
Este projecto de produção de energia, através do vento, é entusiasmante em virtude de, através dos moinhos de vento, se poder produzir hidrogénio pelo processo de electrólise, e assim, poder munir a Carris e os STCP com veículos movidos a hidrógenio. Claro está que os lobbies do petróleo e do gás irão espernear mas o executivo tem que se manter firme nesta matéria, caso contrário, irá pagar a factura política bem cara.

segunda-feira, julho 18, 2005

Speed Dating

Já mencionei uma das novas abordagens da Pós-modernidade em relação às amizades, agora, vou mencionar uma que envolve conhecer a outra cara-metade. Speed dating é um conceito Norte-Americano, só podia ser Norte-Americano pela concentração tão elevada de idiotice que contém, que visa promover encontros entre pessoas que não têm tempo para conhecer as suas respectivas caras-metade. Este "sistema" consiste num local onde as mulheres estão sentadas em mesas numeradas, como também estão numeradas as respectivas mulheres, e os homens então dirigem-se a cada uma das mesas e encetam meia dúzia de palavras, em jeito de conversa, mas que, estas "conversas", só podem durar 4 minutos e não podem fazer perguntas de índole sexual ou convidarem directamente as pessoas em causa para um encontro tórrido, superior a 4 minutos calcula-se, sob pena de serem banidos do sistema. Vendo a coisa pelo lado positivo, alguns dos clientes poderão ter sorte e, no caso de agradarem, terão a possibilidade de ser marcado um encontro, este sim, com mais de 4 minutos.
Nos leilões de gado vivo, as vacas têm números e os potenciais compradores têm números também. As vacas desfilam, com a prévia brochura acerca da origem desta distribuída antes do leilão, num recinto fechado por breves minutos também. A semelhança entre um leilão de gado e este sistema do Speed dating é assustadoramente próxima, o que, poderá levar a concluir que, num dos casos poderemos encontrar a cara-metade ou a vaca da nossa vida penso eu de que...
Estes romanos são loucos!

sexta-feira, julho 15, 2005

Cada techo tem a sua panela

Ainda não escrevi nada acerca do episódio infeliz do anúncio, por parte da Fundação Calouste Gulbenkian, de pretender acabar com a sua companhia de Bailado. Creio que não é necessário explanar o quanto Portugal poderá perder com o encerramento desta Companhia de Bailado. O que eu guardei na memória durante estes dias foram duas coisas muito importantes. A primeira tem a ver com a petição que corre online e a manifestação que ocorreu em Lisboa para demover a Admnistração da Fundação Calouste Gulbenkian desta ideia peregrina. A segunda tem a ver com o hipotético aproveitamento político que alguns políticos da praça viram neste episódio.
Quer queiramos ou não, a Fundação Calouste Gulbenkian é uma Instituição da esfera privada e, infelizmente, poderá tomar este tipo de decisões sem que tenha que dar satisfações à população. É triste mas em Portugal é assim porque, e isto é que é o ponto da questão, a cultura é feita por privados porque, da parte do governo Português pouco ou nada é apoiado, ou quando é apoiado, é sempre sub-apoiado e assim faz-se pouca coisa. O cerne da questão aqui está no facto do Estado Português não disponibilizar os meios suficientes para termos efectivamente cultura neste país. Ao invés disso, pagamos repórteres do canal estatal para passarem férias no estrangeiro sempre que há um episódio qualquer de relevância, se é que, por vezes,esse episódio é minimamente relevante. Cultura neste país é contratar uma fadista qualquer para cantar um fadinho num programa qualquer de televisão e falar acerca do saudosismo fadista e da tradição. Nunca passou pela cabeça de qualquer político que, uma companhia de bailado, e não só, é fundamental para o país. Para muitos isto pode parecer efémero e desregado do que é essencial mas o facto é que um povo que não cria, que não se expressa, definha e isto é que está a acontecer em Portugal. A dança, o teatro, o cinema são formas de expressão artística que promove a criatividade de quem faz e de quem vê e, essencialmente, de quem vê é que se deve estimular essa criatividade. Um povo cinzento definha, vamos colorir Portugal com Cultura.
Por fim, digo a todos os políticos que gostam de aparecer na televisão chocados com o encerramento da companhia de Bailado que, em vez de se aproveitarem deste episódio para darem uma imagem de grande preocupação pela cultura neste país, apresentem projectos para a criação ou apoio de companhias de bailado, escolas de bailado estatais porque, a cultura é efectivamente necessária, não é um luxo para alguns.

quarta-feira, julho 13, 2005

Fazer amiguinhos(as)

Circulam por aí inúmeros serviços de amizade online prometendo, a quem adere, a possibilidade de conhecer inúmeras pessoas e quiçá o amor da vida. É estranho todo este conceito de conhecimento online, se por um lado até se mantem alguns conhecimentos vindos via Internet, por outro lado todo este sistema é uma falácia. Se pensarmos no princípio básico do sistema, ou seja, o profile das pessoas, estes, nunca dizem que se pessoa é humana com todas as virtudes e defeitos que esta condição encerra. Curioso seria um dia encontrar um profile de uma pessoa que dissesse que tem mau hálito logo pela manhã, ou que, tivesse mau feitio, todos afirmam ser muito alegres, sensíveis e gostam todos(as) de ler até que se pergunte o que estes(as) estão a ler.
Não querendo ser um bota de elástico, como é que se conhece uma pessoa, que não se vê, por mera conversa de circunstância via Internet. Para mim é um pouco estranho todo este conceito, prefiro observar o que uma pessoa escreve ou diz, e depois, deixar que a curiosidade cresça para ter vontade de conhecer. Qualquer das vias, isto, transporta-se para a vida do dia a dia quando, numa fila qualquer de um qualquer local onde se tem que esperar inevitávelmente, se enceta uma conversa de circunstância com alguém e, a uma dada altura, olha-se a outra pessoa nos olhos e vê-se que essa pessoa deverá estar a pensar que se está a bater couro, if u know what i mean. Para quem, como eu, mete conversa com toda a gente sempre na desportiva, é estranho verificar este fenómeno que faz com que as pessoas se mantenham afastadas entre si, e que, guardam para estes momentos, a feliz indulgência a outrém para deixar que essa pessoa converse com esta porque, afinal, o jogo tem uma pontuação diferente. Não suporto dar conversa por dar apenas e tão pouco bater couro, já não tenho paciência para isso e as conversas geralmente não têem ponta por onde se lhe pegue.

terça-feira, julho 12, 2005

Mais um bocadinho de verão

Como na posta anterior houve um cliente insatisfeito, vamos ver se desta a clientela do tasco fica mais satisfeita.



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segunda-feira, julho 11, 2005

O Verão

Decidi fazer uma composição estilo escola primária acerca do verão. O verão é bonito, o verão é muito fixe, no verão vamos à praia. No entanto, o melhor do verão são mesmo as hormonas e feromonas que pairam no ar.

Eis o melhor do Verão.


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sexta-feira, julho 08, 2005

Sonho ou realidade

Os acontecimentos em Londres poderiam dar tema para um post mostrando o quão vil e cobarde acto perpetrado pelos terroristas em Londres. Daria também um bom post para falar acerca do tremendo erro que foi a intervenção no Iraque e o repúdio que todos nós sentimos pelas 12.000 vítimas do terrorismo naquele país mas, apesar de tudo, não quero escrever acerca disso. Os acontecimentos de ontem em Londres fizeram-me ter uma conversa com os meus botões e chegar a uma conclusão edílico-pueril do género o que eu gostaria de ser quando fosse grande. Como em termos profissionais já tenho aquilo que quis, deixando de parte a carreira de astronauta que eu escolhi quando tinha 8 anos de idade, actualmente tenho uma profissão que eu adoro e que me satisfaz. Sabendo que já sei e sou o que sempre quis ser, o que é que eu gostaria ser quando fosse grande? Ser, não tanto, mas fazer sim. Então o que eu gostaria de fazer, edílicamente, quando fosse ainda maior:


  1. Entrar no meu carro movido a energia eléctrica ou hidrogénio, enfim qualquer carro desde que fosse ecológico, e seguir viagem para o trabalho ou para um passeio.
  2. Ver o noticiário e as notícias não serem de fome, morte, guerra ou exploração neo-colonialista dos países do ocidente, ou de qualquer país que fosse.
  3. Gostaria que o exercício do poder não fosse controlado por grupos de intenções duvidosas.
  4. Gostaria de ter cerveja ou whiskey canalizado para não ter que ir ao supermercado quando há festança em casa.
  5. Gostaria de percorrer as ruas de qualquer cidade e ver as pessoas confiantes e alegres ao contrário do que vejo hoje em dia.

É infantil e muito aéreo mas digo-vos que sonhar faz bem a toda a gente. De todas as coisas que enumerei tenho a perfeita consciência que muitas não serão concretizadas e que, atendendo aos líderes mundiais que temos, mais fácil será ter cerveja canalizada do que acabar com o neo-colonialismo e o neoliberalismo vigentes hoje em dia. Pelo menos será mais rápido creio eu.

terça-feira, julho 05, 2005

Verão castanho

Se no século XVIII, as mulheres, envenenavam-se com enxofre para ficarem brancas, actualmente, as mulheres, envenenam-se com o Sol, natural ou artificial, para ficarem chamuscadas, aliás, não são só as mulheres os homens também gostam de tostar ao Sol. Na praia, se formos a ver bem, as pessoas parecem focas deitadas na praia, deitam-se ao sol, coçam-se, e no final mudam de lado para ficarem tostadas uniformemente. Pessoalmente, praia, é a partir das cinco da tarde até às oito pelas vantagens nítidas que este horário oferece. Neste horário, evitam-se as criancinhas a embrulharem-se a si e aos que estão ao seu redor de areia em quantidades industriais, evita-se levar boladas dos amáveis trolhas que vão jogar futebol na praia com calções à surfista e óculos escuros. Para mais, neste horário, o Sol não me incomoda tanto, o que, para mim é muito bom porque quando vou para a praia fico vermelho reflector na primeira exposição, vermelho e branco na segunda exposição e castanho após 15 dias de praia, mas como eu farto-me de praia logo após a primeira semana, a cor constante para mim é o vermelho.
Na Alemanha é que há um solário em cada esquina, aliás, nunca vi tantos na minha vida mas percebe-se atendendo ao clima alemão pouco solar digamos. Por mim passavam as senhoras vindas desses solários. tinha pena delas pois parecia que tinham-nas posto dentro de um micro-ondas no programa de descongelação durante 30 minutos, estavam queimadas e não tinham aquele bronzeado dourado que eu aprecio pessoalmente, a pele parecia envelhecida. Acho curioso, bem como, curioso estou, em tentar adivinhar o que será a moda nos próximos tempos em termos de tonalidades para a pele. Se nos séculos passados a palidez era moda, actualmente, a queimadura solar é a trend dos tempos. O que será no próximo século?

domingo, julho 03, 2005

Será que a pobreza acabou ontem?

A questão em volta da organização de um evento, como é o caso do LiveAid, situa-se sempre na quantidade de fundos que se geram em torno de uma causa. No entanto, temos que pensar sempre na forma, se é que existe uma forma viável nas circunstâncias actuais, de fazer com que os fundos efectivamente cheguem às populações realmente necessitadas. O primeiro LiveAid foi um fiasco no que toca à distribuição dos fundos às populações necessitadas porque muitos dos fundos ficaram no caminho ou foram desviados pelos governos e exércitos em guerra. Este ano, a questão mantêm-se, ou seja, como é que serão distribuídos os fundos e será que os fundos chegam às populações. Pessoalmente, creio que a melhor forma de auxiliar as populações necessitadas é através de projectos que permitam furar o ciclo de pobreza instalado nos países subdesenvolvidos. No entanto, esta ideia é sempre um pouco efémera, na medida em que, se não mudarmos as razões estruturais que provocam a pobreza, o auxílio pontual, de pouco servirá. A reunião do G8 será realizada, e que melhor altura para movimentar as pessoas em torno dos perigos que o presente modelo de Globalização apresenta, senão agora e durante o LiveAiD. Não podemos ter a ilusão que perdoando a dívida externa dos países subdesenvolvidos que estaremos a ajudar efectivamente esses países. A maior parte das dívidas externas, nesses países, são originadas pela venda de armamento para alimentar guerras, na sua maioria, sustentadas pelos países desenvolvidos, bem como, pelas dívidas que esses países têm na aquisição de medicamentos para combate às muitas doenças que assolam extensos territórios e populações. Não posso conceber que um país africano, pobre, pague tanto ou mais por um medicamento essencial que poderá salvar as vidas de muitos milhares de pessoas, apenas porque, a indústria farmacêutica pretende ganhar milhões extras com a miséria das populações.
Outra questão apensa a este tipo de eventos tem a ver com a capacidade de mobilização do público em torno de uma causa, ou será, em torno de uma série de bandas? Esta dúvida paira em torno do LiveAid e creio que é inevitável a politização deste tipo de evento. É óbvio que a politização deste tipo de evento não é, nem pode ser, feita sob os velhos modelos de esquerda versus direita, mas sim, em torno de um movimento de desobediência cívica que pressionará todos os partidos a encarem a necessidade extrema em modificar o modelo de globalização que se está a aplicar. A busca de lucro fácil sob a capa de uma globalização que abrirá as portas à livre circulação de produtos entre os vários países mundiais, é uma falácia se, essa circulação de produtos for feita no pressuposto da exploração de mão-de-obra barata. A mão-de-obra, a nível mundial, não poderá continuar a ser barata, pois isso cavará cada vez mais o fosso entre ricos e pobres. A globalização deverá permitir o nivelamento, o mais próximo possível, para que esses países produzam e sejam consumidores. Não se pode sustentar a situação actual em que, algures no Paquistão, um trabalhador paquistanês, provavelmente uma criança, não tem o dinheiro suficiente para comprar uma dos milhares de bolas de futebol que produz, é um contra-senso. Por fim, utilizar slogan dizendo que hoje vamos acabar com a pobreza, tenham paciência e não gozem com a situação.

A desobediência civil não é um fetiche, é um dever que todos os cidadãos devem exercer quando está em causa a dignidade humana, seja no nosso país ou em qualquer outro ponto do globo, pois, isso, afecta directamente todos nós.