Após ter estado duas horas à espera para ser atendido numa repartição pública apercebi-me, na altura, que estou provido de uma paciência de santo. Mais tarde, e quando comecei a refazer-me de toda a situação desgastante a que fui sujeito, apercebi-me que afinal não é de paciência que se trata mas sim de transe. Foi o que me aconteceu quando me deparei com duas horas de espera para ser atendido e dei por mim num estado de transe quase profundo. Fiquei a saber que a Bábá está no último ano do curso de Direito e que já tem casa quase pronta. Fiquei a saber também que o Natal da funcionária pública foi muito bom pelo número de vezes que esta repetiu esta história de cada vez que atendia um novo utente/cliente. Aliás, gostaria de salientar a forma célere e resoluta como a funcionária contou o seu natal a todos os presentes, mais ou menos, à média de três vezes a mesma história por utente/cliente. Durante as duas horas de espera a que fui sujeito, dei comigo de olhos bem abertos a ver a pessoas a falarem comigo ou simplesmente a ouvir as conversas das outras pessoas e não entrei em stress, e porquê? Estava em transe só pode ser. Sempre gostei de observar as expressões faciais das pessoas, por vezes, autênticos bailados de expressões de momento alicerçados pelo escopro da vivência. É curioso, delicioso até, observar essas expressões que as pessoas fazem à medida que o tempo passa e que a paciência se esgota. Chega-se ao ponto de se falar apenas para o amplexo do ar, os olhos já não indicam o caminho, também não é por eles que as pessoas se guiam naquele momento. No momento de se falar, de se confrontar a fonte do stress provocado, os olhos desviam-se para a atmosfera e atiram-se os cartuchos para o ar olhando para o chão e espera-se que caiam as peças de caça, sejam elas quais forem.
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