terça-feira, outubro 25, 2005

Ateus e crentes

O Diálogo entre um Ateu e um crente, seja lá de que religião que for, em torno da religião é muitas vezes acesa e praticamente impossível. Consciente ou inconscientemente vê-se o outro interlocutor como se de um “inimigo� se tratasse e a desconstrução de conceitos é impossível ou quase. O preconceito é predominante, de alguma forma têm-se uma visão acerca do carácter ou opinião das coisas que o outro interlocutor tem derivado à sua crença ou descrença. Subjacente a tudo isto está a cultura individual, ou seja, os referenciais de cada um dos interlocutores, ateu ou crente, e que são de alguma forma diferentes ou aplicados de formas diferentes. Inseridos que estamos todos numa determinada comunidade, os valores que aprendemos inicialmente, enquanto crianças, são comuns. No entanto, o processo de formação da personalidade de cada indivíduo torna-se variado e nem sempre comum. Com isto, a cultura de cada indivíduo torna-se diferente, bem como, a forma como cada indivíduo vê ou reflecte acerca de problemas comuns. Nesta matéria entra um factor que impulsiona o pensamento de cada indivíduo, o sonho. Aqui o sonho deverá ser entendido como a idealização que cada indivíduo tem de si e da comunidade onde está inserido, bem como, as relações de pertença acossadas pela idealização que cada individuo faz das expectativas que a comunidade onde está inserido tem dele. Todos estes factores produzem indivíduos que falam línguas iguais, inseridos em comunidades comuns mas que, apesar disso, possuem culturas diferentes geridas pela necessidade de fazer parte de uma comunidade, logo, há sempre um jogo de cedências e exigências. Isto faz parte da natureza Humana caso contrário a própria evolução da espécie provavelmente nunca teria sido possível.
A pedra toque sobre o pensamento religioso pode-se resumir nesta frase que é um excerto de um texto acerca da Culturalidade e Naturalidade escrito por José Gama da Universidade do Minho, Departamento de Filosofia.

“O que é natural para o homem é esta ligação à terra e ao céu, plantado entre as dunas do deserto e o céu estrelado, onde é possível assegurar o alimento vital das “provisões de doçura� e possa expandir a capacidade de sonhar: de José Gama Universidade de Braga, Departamento de Filosofia.�

Esta capacidade de sonhar, como já referi anteriormente, pode ser entendida como a forma de entender e explorar o mundo que nos rodeia, produzindo desta forma ateus e crentes. No entanto, a base é a mesma e como tal há uma série de preconceitos em torno dos crentes e dos ateus que deve ser colocada em causa por ser desprovida de fundamentação ideológica. A ideia que só um crente tem uma missão na vida e uma crença pela qual se orienta e se rege é falsa. Nem todos os crentes embarcam numa missão, nem tão pouco todos os crentes pensam de forma semelhante e programada como as várias organizações constituídas por homens ( Igrejas) se esforçam em fazer crer aos demais. Os ateus não são desprovidos da capacidade de ter crenças, aliás, o ateísmo é a crença na explicação do mundo que nos rodeia sem ter por base a existência de uma entidade Superior apelidada de Deus ou Deuses.
A maior das falácias nas discussões entre ateus e crentes no que toca à Religião tem a ver com o ponto de partida dos crentes. Muitos crentes vêem a organização religiosa a que pertencem como a suprema e inabalável certeza na convicção religiosa. É necessário ter em conta que as organizações religiosas são compostas por homens que procuram doutrinar condutas entre Homens e não são eles próprios a concepção de Deus. Quanto se debate religião é necessário separar as águas entre o que é a crença na existência de Deus, ou não, das organizações religiosas que se intitulam porta-vozes de Deus, e atenção aos ateus que as organizações religiosas são um espectro, a ideia da existência de Deus é outra. A Deus o que é de Deus a César o que é de César.
Em suma, respeito quem quer que seja e se afirme como crente mas discutir religião ou Deus só com um crente que tome como ponto de partida a ideia da existência de Deus desassociada das organizações religiosas que reclamam para elas o esclusivo de Deus.

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