segunda-feira, janeiro 23, 2006

Habemus Silva

Como dizia a CNN ontem à noite, o Conservador, Aníbal Cavaco Silva, foi eleito com 50.6% dos votos. Se, antes de mais, devemos felicitar os vencedores porque afinal ganharam, devemos também nunca nos esquecermos do porquê dessa vitória e a quem pertence esta vitória. Os Merceeiros e os empreiteiros venceram uma eleição para a qual tanto contribuíram com os milhões que investiram e é também, uma vitória de uma comunicação social que faz, ciclicamente quando o PSD ou um candidato do PSD está em eleições, a construção de uma imagem de vitória. Contudo, isto não explica tudo acerca da derrota da Esquerda Convencional com um singelo relampejo de um movimento de cidadãos alegres. Foi essencialmente uma derrota do Partido Socialista e não do seu eleitorado, foi a derrota de um Partido Socialista que tarda em renovar-se e libertar-se dos seus caciques.
Conseguimos eleger o nosso George Bush da política Portuguesa, ou seja, parafraseando Garcia Pereira na sua intervenção de ontem, chegámos ao grau zero da política em Portugal. Um candidato sem ideias e que não lê jornais foi eleito à primeira volta a soldo dos interesses económicos de alguns empresários Portugueses que insistem em ficar em Portugal mas que, a bem de Portugal, poderiam muito bem ir para a Holanda tal como prometeu um deles. Construiu-se um mito em torno de Cavaco Silva com o auxílio inestimável das televisões nacionais controladas pelo PSD, um mito sebastianino, de que Cavaco Silva irá agitar uma varinha mágica e fazer aquilo que não fez em dez anos de governo como Primeiro-Ministro.
Gostaria de salientar o papel que a comissão política do PS teve na eleição de Cavaco Silva. Fez nestas eleições o mesmo que nas eleições autárquicas, não ouviu as bases e não conseguiu perceber que até mesmo o seu eleitorado está farto de Pina Moura´s e Coelhones e outras figuras de uma classe política que está gasta, é necessário renovar. É também altura de reflectir acerca da Esquerda de todos os dogmas em torno desta. A capacidade de mobilização da Esquerda falhou escandalosamente, ao contrário daquilo que é o preconceito dos políticos de esquerda. É necessário mais e melhor e, acima de tudo, uma esquerda renovada ao centro e à esquerda.
Por fim não pude deixar de reparar na alteração dos padrões de comportamento do eleitorado durante a campanha, o avental e a caneta já não fazem o furor de antigamente e a comunicação social tem um papel mais relevante do que as caravanas na eleição de um qualquer candidato. As pessoas já não querem ouvir as ideias, isso é trabalho a mais parece-me que seja essa ideia que corre a cabeças dos eleitores, querem antes eleger uma figura, e nisso, Francisco Lousã lá terá que pôr uma gravata creio eu. Isto são os tempos de uma política ocidentalizada, uma política de imagem onde o sorriso e a expressão facial são mais determinantes na captação de votos de indecisos do que propriamente as ideias e os consultores de Marketing Político do PSD sabem muito bem disso.

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