terça-feira, dezembro 20, 2005

Um barómetro por favor!!!

Eu nasci numa ex-colónia Portuguesa em �frica, mais propriamente Angola, no entanto, pelo facto de ter saído de Angola com um ano de idade, não tenho propriamente recordações do país onde nasci. Qualquer das vias, sempre vivi com as recordações que os meus pais e familiares trouxeram de Angola, bem como, com o estigma criado em Portugal em torno dos apelidados de retornados, termo mais lisonjeiro que o conhecido "branco de segunda". O facto é que, no seio dos que vieram de Angola, Mário Soares é persona non grata por ser inculcada neste a responsabilidade da perda de Angola. Sempre achei estranha essa teoria, e sem querer ilibar de culpas Mário Soares pelo processo de abandono de Angola, de que este fosse culpado de todo o processo. Numa altura em que Portugal se via na situação de país colonizável pelas potências da Guerra Fria, as ex-colónias, eram um fruto mais do que apetecido e, nos bastidores das "conversações" as peças do xadrez político movimentavam-se frenéticamente.
É um erro culpar-se apenas as autoridades Portuguesas da altura pelo processo de abandono que se verificou porque, sem margem para dúvida, este foi maneatado pelas potências da Guerra Fria numa luta pelo controlo geo-político de uma zona do globo extremamente rica. Fico com a sensação que alguns retornados ainda sonhavam com um país livre, Angola, com a convivência entre europeus e africanos sana e pacífica. Pensou-se isso antes da descolonização e alguns partidos independentistas, o MPLA por exemplo, tinham nas suas fileiras europeus que sonhavam com uma Angola livre e independente. O facto é que esse cenário não interessava às novas potências colonizadoras, EUA e URSS, e o processo de saída rápida de Portugal teve que ser feito. É necessário referir que nas negociações para a Independência de Angola o Partido Comunista Português teve um papel fundamental e decisório no abandono de Angola pelos Portugueses e consequente entrega do poder ao Partido menos expressivo em Angola, o MPLA. Quanto a Mário Soares, apesar de ter sido responsável pela ideia de uma transição rápida e com eleições entre os partidos independentistas contrariada pelos negociadores afectos ao Partido Comunista, se teve influência no desenrolar do processo, esta não foi a maior nem a mais decisiva, nas negociações os comunistas sempre foram condescendentes com as pretensões do MPLA, contrariando a estratégia oficial de Portugal. Culpados pela descolonização de Angola, ou melhor, pela forma como este se desenrolou apesar de ter vindo com vinte anos de atraso, foram: EUA, URSS, Rosa Coutinho, Salazar e Marcelo Caetano, no meio de isto tudo está também Mário Soares, pesa embora o facto de, na no top mais da lista o seu nome não constar em primeiro. Infelizmente, muitos portugueses que foram para Angola viveram uma quimera alimentada pelo Estado Novo que tinha que manter a sua presença em �frica para usufruir das riquezas das ex-colónias Portuguesas.
Por fim, a todos aqueles que ainda pensam com os pés, que é o mesmo que dizer, todos aqueles que ainda pensam que os retornados é que desgraçaram este país, devo dizer o seguinte:

  1. Se muitos têem reformas aos retornados o devem por estes terem feito descontos nas colónias para Portugal e não terem usufruído destas quando se reformaram. Tenho o exemplo de um falecido Tio meu que descontou durante 20 anos para a Segurança Social Portuguesa mas que, quando pediu a reforma já em Portugal, foi-lhe negada e só contou o tempo que descontou cá em Portugal.
  2. Se Portugal era, e ainda é um país cinzento e fatalista, com a vinda de todos os retornados, Portugal ficou sem dúvida menos cinzento com a alegria e horizontes abertos dos retornados.
  3. Se não fossem as colónias Portuguesas durante o regime fascista, em Portugal continental, teria-se morrido de fome.

Não se esqueçam, aprendam a viver a vida sem ficar amarrado ao que já não volta.

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