Algures no pós guerra, a França, como outros paÃses europeus, recorreram a milhares de emigrantes, de várias nacionalidades, para a reconstrução do paÃs devastado pela Segunda Grande Guerra Mundial. Na altura, os emigrantes eram braços necessários para a reconstrução do paÃs apesar de estes só verem a sua situação regularizada anos mais tarde. O facto é que essas comunidades emigrantes ajudaram a reconstrução de França, bem como, o engrandecimento de várias empresas Francesas que prosperaram com a mão-de-obra barata livre de impostos. Nessa altura, tudo ia bem e a “tolerânciaâ€� ia-se verificando. Anos mais tarde, esses emigrantes que foram ficando, tiveram filhos e os laços que os ligavam aos paÃses de origem resumiam-se à saudade. Aà é que começaram os problemas com a inexistência de qualquer polÃtica de integração dessas comunidades que em tanto contribuÃram para as economias emergentes de paÃses como a França. É sabido que os emigrantes são as primeiras vÃtimas do trabalho precário e, os seus filhos, vendo a situação de seus paÃs, não encontram a motivação necessária e imprescindÃvel para continuarem os estudos, de certa forma, à nascença, os horizontes são cortados devido à origem emigrante das pessoas. ConvÃnhamos que, apesar de qualificado, um trabalhador nacional tem mais facilidade em encontrar um emprego do que um emigrante qualificado, algures na equação a cor da pele é um variante que subtraà sempre qualquer coisa ao trabalhador qualificado de origem emigrante. Esta é a situação dos guetos das urbes europeias e, atendendo à falta de perspectivas de futuro dos guetizados, o que terão eles a perder? É sempre de evitar este tipo de distúrbios quando há possibilidade disso mas quando não há diálogo, quando não há vontade de resolver os problemas das comunidades emigrantes, a violência é a solução desesperada mas que a única que está ao alcance. Se até então em França o programa de requalificação dos bairros sociais estava na gaveta devido a cortes orçamentais, actualmente e após os confrontos em Paris, o programa está a ser de novo equacionado e será posto em prática.
Há um outro aspecto fundamental em torno desta questão que tem a ver com a sectarização desta questão. Muitos analisam esta questão colocando-se no lado oposto aos dos autores destes tumultos. Analisando bem a questão, teremos que ver que esta questão não é exclusiva das comunidades emigrantes em França, é também, dos cidadãos “nacionaisâ€� na medida em que, o desemprego não está apenas a afectar as comunidades emigrantes. Quando na Europa, a Velha Europa, temos dirigentes polÃticos que nos querem fazer crer que as polÃticas neo-liberiais que promovem a deslocalização das empresas europeias para paÃses onde a mão-de-obra é mais barata e desprotegida são inevitáveis e normais, temos que reflectir muito bem acerca de que lado nos deveremos colocar nas barricadas. O facto é que as comunidades emigrantes são as mais prejudicadas com a deslocalização das empresas para outros paÃses mas não são as únicas. Num quadro actual em que as polÃticas de protecção social na Europa estão a ser destruÃdas e o desemprego está a aumentar devido à deslocalização das empresas, urge colocar as seguintes questões: Quem está a lucrar com esta situação? O povo europeu que vê os seus postos de trabalho perdidos devido à deslocalização das empresas onde trabalhavam ou as grandes empresas e grupos económicos que vêm desta forma os seus lucros maximizados à custa do desemprego de europeus e ao recurso da exploração semi-esclavagista de mão de obra em paÃses do terceiro mundo?
O que os povos dos paÃses europeus ainda não compreenderam é que esta luta é, de certa forma, a luta deles também. Seria preferÃvel que não houvesse recurso a este tipo de violência mas, infelizmente, quando a classe polÃtica europeia é autista há poucas alternativas. Em Maio de 68 houve tumultos graves e a ordem pública foi muito alterada mas o facto é que houve uma série de questões que foram alteradas e nesta situação está a acontecer o mesmo.Repito que o recurso à violência é sempre de evitar mas quando não há vontade de diálogo por parte dos governantes, o povo tem é que vir para a rua. Por fim resta-me referir que no meio destes tumultos graça também a destruição gratuÃta infleizmente.
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