Lembro-me do homem que trabalhava no bar da estação de caminhos de ferro do Entroncamento. Conhecia quem conduzia as locomotivas pelo apito característico que cada um dos máquinistas tinha, bem como, pela sonoridade do apito conseguia dizer qual era a locomotiva: “ Olha vem aí o Feliciano com a Santa Apolónia, vai fazer a linha da Beira Baixa!”. Esse homem adoeçeu e o seu percurso é triste devido à doença grave que contraíu mas não é propriamente disso que quero falar. É do Bar da estação do Entroncamento que quero falar que já não tem operários com a marmita, tem agora, militares, funcionários públicos, gente do sector terciário, desculpem-me mas não é a mesma coisa, essa não é a gente que preenche a minha memória das vezes que ia a Lisboa. Quando chegava ao Bar havia a conversa de quem tinha as mãos encarcilhadas pelo ferro e a solda de mil comboios arranjados, agora, todos pegam a sua chávena de café e viram costas ao bar em direcção à televisão em silêncio. Este não é o meu Bar defenitivamente. A cidade tem os mesmos autocarros cor de laranja e as pessoas a fugirem por entre as pedras da calçada desviando-se de olhares. Só eu é que adicionei mais uns centímetros e agora vejo as coisas de outra perspectiva. Esperei pela viagem de regresso e escolhi de propósito o comboio da Beira Baixa mas já não havia os velhotes com os intermináveis sacos, as encomendas lá para a terra e o perfume das suas conversas. Enfim, há outras coisas.
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